Motocicletas com propulsores sobrealimentados estão chamando a atenção dos aficionados pelas duas rodas. O furor começou há algumas semanas, quando a Kawasaki apresentou, no Salão de Colônia 2014, a excêntrica Ninja H2R. Estilosa, a superesportiva impressionou ainda mais quando se constatou que seu propulsor, um 4-cilindros em linha de 1.000 cc, era sobrealimentado e, por isso, capaz de chegar a 300 cavalos de potência.
Em outro pavilhão do mesmo evento, a Suzuki expôs a conceitual Recursion, mostrada pela primeira vez no Salão de Motos de Tóquio de 2013. Com visual esportivo e semicarenado, o protótipo é equipado com um motor bicilíndrico que conta com turbocompressor integrado. O nome, inclusive, pode ser interpretado como uma busca por reviver o passado, e isso não tem nada a ver com o desenho: está relacionado à mecânica.
Máquinas de duas rodas sobrealimentadas não são novidade. O conceito virou aposta das principais montadoras (especialmente as japonesas) no começo dos anos 80, mas passou longe do sucesso esperado e, por isso, acabou abandonado antes mesmo da metade da. H2R e Recursion indicam que a moda pode estar voltando, mais uma vez capitaneada pelas marcas nipônicas. Afinal, a proposta já é uma alternativa da indústria das quatro rodas para extrair mais potência de propulsores menores, preceito que também pode funcionar nas motocicletas no futuro.
Resta saber qual solução será mais bem-sucedida: a sobrealimentação simples da Kawasaki, cujo compressor usa a força do próprio motor para soprar a mistura de ar e combustível, ou o conceito tradicional de turbo da Suzuki -- com direito a intercoolers para resfriar o ar comprimido. Por enquanto, o projeto da H2R ganha pontos por estar mais próximo das mãos do público -- tanto que o modelo ganhou uma versão de rua no Salão de Milão, a Ninja H2, que rende "só" 200 cv.
Será que as duas superbikes japonesas se tornarão precursoras de uma nova era para as motos turbo e sobrealimentadas? É esperar para ver.
Ninja H2R deve ser primeira moto de produção sobrealimentada em anos
REVISITANDO A HISTÓRIA
No início da década de 1980, as quatro grandes montadoras japonesas (Honda, Yamaha, Suzuki e Kawasaki) contavam com modelos turbo em suas linhas. Uma delas era a Yamaha XJ 650T, ou "Seca Turbo", de 82. Equipada com um propulsor tetracilíndrico refrigerado a ar, a moto inovava por instalar o turbocompressor entre a transmissão e a roda traseira, com dimensões diminutas.
Os números de desempenho não eram tão impressionantes para os padrões atuais: 90 cavalos (a 9.000 rpm) e 8,3 kgfm de torque (a 7.000 giros). Mesmo com o projeto arrojado e com a visiblidade que ganhou por servir de transporte para o famoso agente James Bond, no filme "007 - Nunca Mais Outra Vez", a produção da XJ 650T durou somente um ano.
Também em 82, a Honda estreou a CX 500 Turbo, cujo motor V2 (que nasceu com 82 cv e, depois, chegou a 100 cv), montado transversalmente, era dotado de um complexo sistema de injeção eletrônica, com sensores de diagnóstico para sinalizar falhaas. Visualmente, a moto carregava a identidade típica das motos da época: formas quadradas na carenagem quase integral e um grande farol retangular. Esta também viveu pouco: em 83, foi substituída pela CX 650 T.
Já a Suzuki apostou na XN 85D Turbo, de 1983, com estilo semicarenado. O modelo contava com um propulsor tetracilíndrico de 85 cv, sendo a primeira moto de rua da fabricante a usar pneu dianteiro com aro de 16 polegadas, algo até então só comum em modelos de competição. Foi descontinuada no mesmo ano.
Outros tempos: Suzuki XN85 Turbo rendia meros 85 cavalos, mesmo usando turbocompressor; ganho ínfimo de potência e os lags gerados pelo sistema fizeram das motos turbinadas um fracasso de vendas
Se agora a Kawasaki tenta puxar a tendência da sobrealimentação, naquela época a montadora foi a última grande japonesa a entregar uma moto turbo.
Curiosamente, a GPZ750 Turbo acabou sendo a que mais tempo aguentou no mercado (de 83 a 85). Isso se explica por alguns motivos: primeiro, o modelo tinha as mesmas características visuais da conhecida GPZ900R, usada no filme "Top Gun"; segundo, o propulsor 4-cilindros era o mais potente de todos, rendendo 112 cv; terceiro, o turbo era instalado na parte da frente, próximo às saídas para os canos de escape, o que ajudava a reduzir o tempo que a turbina levava para gerar o ar que será levado aos intercoolers e ao motor (o famoso lag).
Nenhum comentário:
Postar um comentário